Texto I: Algo que contive.

Sou como um prisma, como esse diamante que trago no peito. Às vezes uma face se mostra alheia à minha vontade, mas nenhuma delas deixa de ser de verdade, nenhuma delas deixa de ser eu. Há quem me ache extrovertida e há também quem diga que eu não sei me divertir, nem demonstrar contentamento. Algumas pessoas me fazem florir, outras são como um remédio amargo e há também quem não traga nada de novo, ultimamente, a maioria me dá sono, mas o fato é que cada um trás à superfície uma face do que sou e posso ser. Não sei onde se enfiaram os fãs de Coltrane, Ella, Nina...Lou Reed...A galera que mesmo nova conhece a tropicália, os fãs de Chico e Caetano. Meu Deus dói tanto saber que eles se escondem... Há tão poucos poetas dispostos a colocar cor e espírito na narrativa quase sempre chata, e tantas vezes nefasta dos dias. E todos os saraus com os quais sonhei enquanto me tornava adolescente? Onde estão?
Onde estão as pessoas que se sentem desesperadas como eu? Me sinto o outro, aquele que não pertence. Me sinto o José de Drummond, e Raul grita pra mim à plenos pulmões: " Não pare na pista!" Mas pra onde eu devo ir? O mundo nunca foi seguro, mas hoje o ódio habita descaradamente no coração dos homens.
Quando eu estava morrendo pela primeira vez anos atrás, Ozzy me disse por longos três meses: “Life won't wait for you" Eu sei! E essa urgência me causa angústia, e essa angústia me adoece.
Escrevo porque o silêncio não é solução. E caso alguém se pergunte, pra mim, escrever é sim solucionar ao menos em parte. Estou escrevendo porque estar dentro desse corpo não me é suficiente. Escrevo porque nunca tive a escolha de não fazê-lo, ou tomo esse papel minha vítima, refém ou escudo, ou a loucura que me abraçaria seria maior que esta que já possuo. Eu escrevo porque não tenho medo do escuro. Esse texto não é confissão, expurgo ou sussurro, é um ato de violência contra o papel que antes em branco parecia puro.

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